Resenha

As Gêmeas – Saskia Sarginson

As Gêmeas
Saskia Sarginson
Novo Conceito, 2014
320 páginas

As gêmeas Isolte e Viola eram inseparáveis na infância, mas se tornaram mulheres muito diferentes: Isolte tem um emprego glamouroso em uma revista de moda de Londres, namora um fotógrafo e vive em um bairro descolado. Viola, desesperadamente infeliz, luta contra um transtorno alimentar e não faz questão de se ajustar a nenhum grupo. O que pode ter acontecido para levar as gêmeas a seguirem trajetórias tão desencontradas? À medida que as duas jovens começam a reviver os eventos do último verão em família, terríveis segredos do passado vêm à tona – e ameaçam invadir suas vidas adultas.

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“As Gêmeas” chamou minha atenção primeiramente pela bela capa, mas também pelo ar de mistério que despertou minha curiosidade, principalmente depois de ler a sinopse do livro. Quando iniciei a leitura do livro, claro que eu tinha grandes expectativas: o que eu não esperava, era embarcar em uma das histórias mais cativantes que já li.

O livro trata da história de duas irmãs gêmeas, Isolte e Viola, que são praticamente inseparáveis e que depois de adultas enfrentam dificuldades em suas vidas devidos a vários acontecimentos do passado que voltam à tona.

As gêmeas foram criadas em meados dos anos 70 em uma comuna hippie e possuíam uma mãe que não ligava para regras. As coisas começam a mudar quando Rose (mãe das gêmeas) decide se mudar para uma cabana na floresta em Suffolk. As garotas passam a viver uma vida cheia de imaginação em uma floresta perto do mar com seus melhores amigos, os gêmeos John e Michael. Elas tiveram uma infância digna de contos de fadas, eram unidas como uma só pessoa, mas não imaginavam que um dia tudo isso teria um fim. Quando uma tragédia assola a vida das garotas, o mundo perfeito delas se desfaz.

Anos depois, já adultas, não poderiam ter seguido caminhos mais divergentes: Isolte trabalha em uma famosa revista de moda em Londres e namora um fotógrafo. Viola, porém, está pior a cada dia. Ela sofre gravemente de um transtorno alimentar, e cada vez mais é consumida por uma culpa secreta. O que aconteceu, anos atrás, para que essa parede entre as duas gêmeas tenha sido criada?

A narrativa

O livro é narrado em primeira pessoa por Viola, e em terceira por Isolte. Os capítulos são alternados entre uma e outra, mostrando as impressões de cada uma das irmãs acerca dos acontecimentos, tanto os passados quanto os presentes. A autora conseguiu mesclar passado e presente perfeitamente, tornando a leitura quase impossível de ser pausada.

Há um grande mistério envolvendo o passado das irmãs. A história, mesmo anos depois da infância das duas, mostra como os fatos ocorridos no passado afetaram a vida das agora adultas, como as gêmeas tiveram diferentes maneiras de lidar com um trauma e como isso irá afetá-las.

Os acontecimentos do passado vão sendo revelado aos poucos o que conseguiu prender minha atenção até a última página da história. Adorei esse modo como só aos poucos vamos descobrindo os mistérios que envolvem a história. A autora vai nos dando peças do quebra cabeça, e aos poucos vamos juntando, até dizer “AHA! Foi por isso que…”

Minhas impressões

O livro possui um ar sonhador, cheio de devaneios, dando aquele ar nostálgico de infância. As irmãs eram, quando crianças, crentes de que viviam em um conto de fadas, e o contraste com o pensamento atual delas é enorme – assim como saudade de ambas do passado. Você consegue se colocar no lugar delas, ver como é difícil sair daquela realidade, Viola por exemplo, se recusa a aceitar que os tempos de felicidade e fantasia se foram, ela custa a encarar a realidade, fazendo com que você sinta, sofra e se divirta com as lembranças dela.

“Quero estar lá de novo entre as árvores, com o sol da manhã quente em minhas costas. Não quero emergir dentro do meu outro corpo, dentro das beiradas duras e das cavidades sugadas de mim mesma. Na floresta é 1972, e temos doze anos.” Viola – p. 24

As Gêmeas se trata de uma história de amor, mas também é uma história sobre a dor. Sobre o peso que um grande segredo pode ter, como pode ser difícil viver anos e anos com esse peso. Sobre como alguns laços são eternos, e mesmo que você tente, não pode rompê-los, afinal, eles fazem parte do que você é, o que te torna incapaz de apagá-los. É impossível retornar ao passado para cancelar uma ação. Apesar dos resultados da ação poderem ser mudados, a ação jamais poderá ser apagada de sua história.

“Nenhuma ação pode ser desfeita. Nenhuma palavra dita pode ser desdita. Existe apenas movimentos e mudanças, e a esperança de que o tempo possa levá-la longe o bastante do horror para torná-lo pálido e impreciso.”

Além disso, a resolução final do grande mistério do livro é tão tocante, que, ao finalizar a leitura, não consegui segurar as lágrimas. Todos nós carregamos nossas culpas e nosso passado, e essa é uma história sobre como isso pode influenciar de maneira drástica em nossas vidas.

Mas o livro não acaba aí, no final do livros nos é apresentado um Guia de Leitura com diversas perguntas e também perguntas e repostas da autora, o que eu adorei, saber sobre as impressões da autora sobre o livro, o que a inspirou a escrevê-lo, o que ela acha que acontece no final (o final do livro é aberto) e sobre suas futuras obras foi incrível!

O livro é extremamente recomendado, afirmo que essa história irá tocar sua alma, mesmo que um pouco. Não posso esperar para ler mais de Saskia Sarginson.

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