Galera Record,  Resenha

Amy e Matthew – Cammie McGovern

Amy e Matthew
Cammie McGovern
Galera Record, 2015
336 páginas

Amy e Matthew não se conheciam realmente. Não eram amigos. Matthew sabia quem ela era, claro, mas ele também sabia quem eram várias outras pessoas que não eram seus amigos.Amy tinha uma eterna fachada de felicidade estampada em seu rosto, mesmo tendo uma debilitante deficiência que restringe seus movimentos. Matthew nunca planejou contar a Amy o que pensava, mas depois que a diz para enxergar a realidade e parar de se enganar, ela percebe que é exatamente de alguém assim que precisa.À medida que passam mais tempo juntos, Amy descobre que Matthew também tem seus problemas e segredos, e decide tentar ajudá-lo da mesma forma que ele a ajudou.E quando a relação que começou como uma amizade se transforma em outra coisa que nenhum dos dois esperava (ou sabe definir), eles percebem que falam tudo um para o outro… exceto o que mais importa.

Eu estava bem em dúvida se comprava ou não esse livro devido à capa ser parecida com a de Eleanor & Park, mas agora posso dizer que não me arrependo nem um pouco! Preciso começar dizendo que todo mundo precisa ler Amy & Matthew! As lições de vida ensinadas são completamente apaixonantes, me emocionei em muitas partes do livro.

O livro conta a história de Amy, uma garota com paralisia cerebral (Hemiplegia) e por isso tem a necessidade de utilizar um andador para se locomover e um computador parecido com o do Stephen Hawking para se comunicar. Ela sempre precisou de ajuda para as tarefas mais básicas como comer, ir ao banheiro, fazer provas etc. e possuía um professor auxiliar contratado que estava sempre ao seu lado.

Amy leva uma vida confortável. Apesar de não conseguir se expressar claramente ou ser compreendida, ela sempre foi muito inteligente e tem um ótimo senso de humor. A única coisa que faltava era: amigos, mas ela sempre esteve determinada a mudar essa situação antes de entrar em uma faculdade.

“Viver em um corpo que limita minhas escolhas significa não ser uma vítima da moda ou das pressões culturais, porque não existe lugar para mim na cultura que vejo. Ao ter menos opções, sou mais livre do que qualquer outro adolescente que conheço. Tenho mais tempo, mais escolhas, mais caminhos a seguir. Eu me sinto abençoada e, sim – me sinto uma garota de sorte.” p.23 – Amy

Matthew nunca foi um garoto popular, sempre foi muito tímido e depois da separação dos seus pais se fechou em seu mundinho e passou a ser consumido por um medo irracional de machucar as pessoas. A única coisa que o relaxa é lavar as mãos constantemente, verificar se a torneira da pia está realmente fechada, andar nas pontas dos pés e bater em armários no corredor do colégio. Apesar de não aceitar, ele tem TOC e sempre há uma voz em sua cabeça o torturando e o deixando cheio de medo e preocupações.

Após uma redação totalmente otimista, quase Poliana, feita pela Amy, Matthew não consegue acreditar que ela podia ser feliz e dizer que não sentia falta de nada em meio a tantos problemas e limitações. Quando Matthew cria coragem e diz tudo o que pensa para Amy, algo surpreendente acontece: surge uma amizade que será capaz de destruir barreiras e impulsioná-los para uma jornada de autodescoberta e de superação.

“Aprendi a não julgar as pessoas por suas limitações, mas pela maneira como avançam além delas. Aprendi que muitas pessoas têm deficiências com as quais precisam aprender a conviver.” p.89 – Amy
Minhas impressões

Ao terminar do livro fiquei pensando em como a gente reclama da vida sem ter realmente um problema. Fiquei emocionada com a força que Amy demonstra ter, em tese, ela deveria ser a grande “vítima” da história, a coitadinha, mas muito pelo contrário, ela se mostra forte e otimista.

Matthew foi a primeira pessoa que não a tratou como uma coitada, que jogou a realidade na cara dela, o que foi muito importante. Por mais que ela ache que a sua vida é boa e feliz, ela sabe que no fundo, as coisas não são bem assim. A sociedade é preconceituosa e, infelizmente, as pessoas com necessidades especiais nem sempre tem um lugar ao sol. Ela sabe que existem coisas que nunca poderá fazer, e que talvez tenha de viver para sempre à sombra de sua mãe controladora.

“Talvez (você) não tenha essa noção, mas quando se tem uma deficiência, quase ninguém fala a verdade para você. As pessoas ficam constrangidas porque a verdade parece triste demais, eu acho. Você foi muito corajoso em ir até a aleijada e dizer basicamente: apague esta expressão feliz do rosto e enxergue a realidade. É isso que quero que você faça ano que vem. Que me diga a verdade. Só isso.” p.34 – Amy”

Eu adorei entender um pouco mais sobre as limitações de pessoas deficientes, e o livro nos dá uma lição sobre isso! Matthew que é fisicamente “normal” e portanto tem totais chances de ser bem sucedido, vive uma deficiência mais aprisionante que a de Amy. Atualmente, as pessoas tratam as doenças psíquicas e emocionais como frescura, mas não percebem o quanto elas são sérias e incapacitantes. Ambos tem uma lição para ensinar ao outro, possuem uma relação de ajuda mútua. E com o tempo, a convivência e a intimidade entre eles, faz surgir o amor, mas não é apenas um romance adolescente, é um amor que consegue nos inspirar!

O livro é narrado em terceira pessoa, e conta com diversos trechos escritos pela visão dos próprios personagens, que são apresentados através de e-mails. O livro é lindo, as páginas são de ótima qualidade e a diagramação está impecável. Adorei o fato de a autora usar letras maiúsculas para destacar as falas da Amy, funcionou como um artifício para mostrar a sua artificialidade.

Amy e Matthew é uma história marcante sobre caminhos e decisões que tomamos na vida. E junto com isso ainda tem todas as dúvidas e contradições da adolescência.

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