O livro tem uma capa dura vermelha com o nome da autora "Octavia E. Butler" e o título "Kindred" escritos em branco e também uma ilustração de duas mãos se tocando na ponta dos dedos e uma corrente branca ao fundo. O livro está sobre um tapete peludo bege.
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Kindred (Laços de Sangue) – Octavia E. Butler

Ficção Científica é um dos meus gêneros preferidos da literatura e o que posso dizer é que Kindred é uma leitura obrigatória para fãs de ficção e já está entre meus livros favoritos.

A obra é uma ficção científica permeada por elementos históricos e conta a história de Dana, uma jovem negra americana que é transportada ao período escravagista dos EUA. Com essa premissa, a autora discute temas como racismo e machismo em duas épocas diferentes da história.

Dana era apenas uma mulher comum, uma escritora em começo de carreira, iniciando a vida ao lado de seu marido (Kevin) em sua casa nova, mas que teve sua vida transformada após ser transportada através do tempo para salvar um garotinho chamado Rufus de se afogar.

Nesse momento, Dana é colocada na condição de salvadora e é transportada ao passado sempre que Rufus precisa de ajuda ou sua vida está em risco. O problema é que ele é um garoto branco que vive em uma Maryland do século XIX, onde a escravidão ainda era legal. Dana é uma mulher negra que de repente se vê em uma realidade que pode ser letal para o seu futuro.

Preciso dizer que, durante toda a leitura, eu não fazia ideia do que esperar do livro e do que Butler tinha preparados para seus leitores. Será que, em algum momento, Dana ficaria presa para sempre naquela realidade? Será que seu marido conseguiria encontrá-la? Diferente de diversos livros, onde a gente tem uma ideia de como as coisas vão acabar, aqui foi sempre um mistério. Eu passei o livro todo tentando decifrar os motivos desse acontecimento: ela tinha algum tipo de magia ou isso vinha do garoto?

Quanto mais viagens Dana faz, mais seu relacionamento com Rufus se complica e mais difícil as coisas ficam. As viagens de Dana ao passado, contra a sua vontade, a tornam uma escrava, do tempo e de Rufus. Se esse garoto não sobreviver, ela nunca nascerá já que ele é seu antepassado. Isso me colocou em pânico, pois fiquei imaginando o que poderia acontecer se Rufus se metesse em confusão e ela estivesse dirigindo?

“Eu nunca percebi a facilidade com que as pessoas poderiam ser treinadas para aceitar a escravidão.”

Analisando o desenvolvimento do personagem de Rufus, posso dizer que fui surpreendida já que, quando criança, ele era muito atencioso com Dana. E acreditei que poderia se tornar um abolicionista no futuro. Mas, com o tempo, vemos que ele segue os passos do pai e torna-se manipulador e muito agressivo.

Durante a leitura, eu também estive atenta às divergências entre a visão que Dana e Kevin têm do período. Obviamente, Kevin vê o passado de maneira diferente já que ele é um homem branco e Dana uma mulher negra. Ele chega a propor que os dois deveriam seguir em uma viagem de aventura para o Oeste. Dana logo o interrompe dizendo que isso seria assistir ao “massacre generalizado de mais um povo, obrigado a sair de suas terras para dar lugar à exploração e à opressão.”

O livro mostra diversos pontos sobre a escravidão, como a tal da “miscigenação” racial que, na verdade, era um estupro com a finalidade de gerar mais escravos. Além disso, os personagens escravizados não são coadjuvantes e cada um tem uma história de vida bem desenvolvida e que ajuda a compor a história.

“As sociedades repressivas sempre pareciam entender o perigo das ideias “erradas”.

Kindred é realmente um soco no estômago do leitor. Octavia Butler é muito didática de forma que a gente não percebe que está recebendo uma aula sobre o sistema racista e sua construção ao longo do tempo. Além disso, ela mostra o quão fácil é para pessoas privilegiadas aceitarem a opressão e a ausência de direitos de minorias.


Sobre a autora

octavia butler – Leia.

Octavia Butler, nascida na Califórnia em 1947, é considerada a Grande Dama da Ficção Científica. A autora precisou lutar contra a pobreza, a dislexia e o racismo para receber um diploma universitário e foi a primeira mulher negra norte-americana a conquistar o sucesso em uma área da literatura dominada por homens: a ficção científica. Ao longo de sua carreira, foi laureada com o MacArthur Fellowship, Hugo, Nebula e Locus Awards, além de ser indicada mais de 20 vezes à prêmios. Representava em seus livros heroínas negras e explorava temas como raça, empoderamento feminino, divisão de classe, sexualidade e escravidão. Em 2010, quatro anos após sua morte, foi inserida no Hall da Fama da Ficção Científica, em Seattle.

“Comecei a escrever sobre poder, porque era algo que eu tinha muito pouco”

Octávia E. Butler

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