Intrínseca,  Resenha

Objetos Cortantes – Gillian Flynn

Objetos Cortantes
Gillian Flynn
Intrínseca, 2015
251 páginas

Recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde foi internada para tratar a tendência à automutilação que deixou seu corpo todo marcado, a repórter de um jornal sem prestígio em Chicago, Camille Preaker, tem um novo desafio pela frente. Frank Curry, o editor-chefe da publicação, pede que ela retorne à cidade onde nasceu para cobrir o caso de uma menina assassinada e outra misteriosamente desaparecida.

Desde que deixou a pequena Wind Gap, no Missouri, oito anos antes, Camille quase não falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã, praticamente uma desconhecida. Mas, sem recursos para se hospedar na cidade, é obrigada a ficar na casa da família e lidar com todas as reminiscências de seu passado. Entrevistando velhos conhecidos e recém-chegados a fim de aprofundar as investigações e elaborar sua matéria, a jornalista relembra a infância e a adolescência conturbadas e aos poucos desvenda os segredos de sua família, quase tão macabros quanto as cicatrizes sob suas roupas.

Eu conhecif Gillian Flynn através do filme Garota Exemplar que me chamou bastante atenção e fui direto pro notebook pesquisar mais sobre a autora, então “descobri” Objetos Cortantes e comprei de imediato, fiquei realmente curiosa para ler! Foi um livro que me deixou encantada com a escrita da autora, ainda mais por ser o romance de estreia dela!

Fui completamente arrebatada pela narrativa, portanto está sendo difícil descrever o quão instigante e maravilhoso foi o desenrolar dessa leitura. Desde o início eu sabia que iria me apaixonar pelo livro, mas não fazia ideia de como ele me afetaria. Se alguém me perguntasse do que se trata, eu diria que o livro fala da complexidade da mente humana. Nós somos falhos e estamos suscetíveis a distúrbios psicológicos que afetam completamente a nossa vida e a dos que estão ao nosso redor, e de certa maneira são essas características que dão sentido para a narrativa. Ao falar sobre traumas familiares, automutilação, assassinatos, solidão, e os padrões de beleza e perfeição impostos pela sociedade, Gillian cria uma história que penetra a pele do leitor, fazendo-o experimentar uma dolorosa mescla de emoções, nos mostrando a incrível autora que ela é. Ela consegue explorar a insanidade humana e o seu efeito nos relacionamentos pessoais e sociais com perfeita maestria. Suas protagonistas, sempre problemáticas, são mulheres destemidas e perturbadas que tem suas vidas mergulhadas em turbilhão de desespero e horror, muitas vezes ocasionados por elas mesmas.

A história gira em torno de Camille Preaker, uma repórter de um jornal não muito famoso de Chicago. Após oito anos longe de sua cidade natal, ela precisa voltar à Wind Gap (Missouri) para cobrir um misterioso caso de assassinato e desaparecimento de duas meninas. Camille acredita saber os dramas que a esperam – ela vê nisso tudo uma oportunidade de reconhecimento profissional – contudo, não imagina que ao escrever essa matéria estará colocando em risco sua sanidade mental. Reviver o passado, regressar para a casa da mãe, encontrar a meia-irmã que é praticamente uma desconhecida e, principalmente, voltar a se sentir tão inadequada, são algumas das dificuldades que ela precisará enfrentar. E o pior é que enquanto Camille segue sua busca pessoal por perdão e libertação, também precisará trabalhar com a polícia e os moradores locais em busca de pistas sobre o caso das garotas desaparecidas, desvendando tanto os dolorosos mistérios de sua família quanto os de sua antiga cidade.

Este lugar faz coisas ruins comigo. Eu me sinto errada.

Um dos focos da narrativa é o relacionamento de Camille com sua família, principalmente, suas mãe (Adora) e irmã (Amma). Amma tem apenas treze anos de idade e age como uma adulta, veste roupas curtas, bebe, usa drogas e tem seu próprio time de garotas como ela, mas isso tudo somente longe dos olhos de Adora. Adora gosta de vestir a filha como uma boneca, ela gosta de cuidar da filha e a filha parece se sentir muito feliz com toda a atenção que recebe. A família se baseia na dominação e na passividade. A mãe de Camille abomina o trabalho da filha, assim como tudo que tem relação com a mesma. Camille tem vários problemas psicológicos e o nome do livro se baseia em um problema que a personagem possui com objetos cortantes. A morte da irmã, a preferida da mãe, foi o que deu início ao fim de uma família que já era desestruturada.

Minhas impressões

Objetos Cortantes é um livro realmente fantástico, faltam-me palavras para descrever a maravilhosidade que Gillian nos apresenta. É um livro que qualquer leitor dificilmente irá esquecer. O diferencial da narrativa é a união dos aspectos profissionais e pessoais que mais assombram a protagonista. Ao acompanhar a volta de Camille para casa, e vê-la relembrar os anos que passou na cidade, se sentindo cobrada, imprópria e lamentando a falta de amor da mãe, somos impulsionados a sentir na pele todos os seus medos, para reviver as lembranças que fizeram com que ela marcasse seu corpo com diversos cortes, é algo perturbador. Nunca imaginei que mergulharia na vida da protagonista e que seria capaz de sentir o peso que ela carrega nos ombros. O fato é que a personagem, seus distúrbios, e suas falhas, são tão reais que é impossível não se deixar levar por sua história de vida.

Eu achei incrivelmente fantástico ver as reflexões emocionais presentes no livro, poder viver na pele um distúrbio tão complexo como o da automutilação e desvendar os detalhes desse caso policial. A autora deu vida a uma história que mostra a complexidade e obscuridade da mente humana. Espero poder ler mais livros da autora em breve!

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